Falar em brincadeira geralmente nos
conduz para uma interpretação do oposto à coisa séria, o oposto às
tarefas de adulto. Mas seriam dois mundos opostos? O mundo da criança
onde predominam a ilusão, a fantasia, a lógica dos desejos e a
necessidade promete de satisfazê-las : e o outro, o mundo do adulto,
regido pela realidade da razão, pela lógica real, pelo mundo da verdade.
Até quando se diz que brincadeira é
coisa séria, esta dualidade, mundo da criança ( da lógica dos desejos)
versus mundo dos adultos ( da lógica da razão). Pode continuar
existindo. Também quando se fala “pare de brincadeira”, pode-se estar
referindo a alguma fala ou ação lúdica. Provavelmente engraçada, que
parece separar o sujeito daquilo que quer fazer, como se as brincadeiras
infantis não tivessem seus propósitos e não fossem coordenadas por uma
lógica real.
Não existe brinquedo sem organização e
sem motivo. A situação imaginária tem uma lógica, mesmo não sendo
formal, previamente estabelecida.
Tanto Piaget quanto Vygotsky informam
que, no jogo e no brincar, a criança consegue submeter-se às regras como
fonte de prazer. Esse autocontrole interno sobre o conflito, entre o
seu desejo e a regra da brincadeira, é uma aquisição básica para o nível
de sua ação real e para a modalidade adulta futura.
Em relação à alfabetização, para
Vygotsk, a brincadeira também contribui para o desenvolvimento da língua
escrita na medida em que a simbolização do jogo abre espaço para a
expressão gráfica, seja por meio do desenho, seja por meio da escrita
propriamente dita.
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